Série Noções: Noção de crítica

O melhor meio para se avaliar a eficácia ou a eficiência de uma ação e seus efeitos é a crítica. Social ou individualmente, de forma racional e com mente aberta é o que todos deviam fazer a cada passo dado, tanto na vida pessoal quanto coletiva.

Infelizmente não é assim. Criticar é quase sempre um motivo para alterar os ânimos, alguns acham que a crítica é algo negativo e deve ser evitado. Outros entendem que o ato crítico é um exagero da perfeição, outros sugerem que deva ser feito somente por pessoas competentes, e por aí vai, a idéia é se fechar e reagir às críticas, elas serão mal vindas mesmo que sejam necessárias. Criticar é sinônimo de censurar, por essa mesma razão é que nos ensina a viver em sociedade porém, para a maioria, conceber uma idéia coletiva é invadir o falso e impotente individualismo.

Por crítica traduz-se também uma apreciação minuciosa, uma análise baseada em critérios de julgamento com a finalidade de significar alguma coisa. No senso comum, mais popular, a palavra tem uma conotação claramente negativa a tal ponto de ser considerada uma agressão. Há os que dividam o ato de criticar em crítica construtiva e aquela já citada como ofensa, impossibilitada de ser crítica natural, aceita como opinião diversa, mas atribuída a uma má intenção.

E agora, como saber se é a má intenção que prevalece ou a falta de aceitação? Estamos nos impedindo de analisar os nossos atos por barrar o ato crítico ou estamos nos defendendo de um possível ataque “maldoso” e igualmente isolando a ação da crítica que tem por base o ato conjunto de reavaliar dialeticamente uma determinada ação ou fato produzido por esta? Estamos evitando um conflito? Aquele que é inerente à existência humana.

Sem ser muito profundo é só imaginar que na seqüência de nossos pensamentos estão os atos que qualificam os primeiros, mesmo numa inação ou no silêncio temos um propósito. Ao agir deliberadamente sem questionar, filtrar ou medir o raio de ação de nossas ações estaremos produzindo o caos, não seria coletivo nem social, seria individual e inconseqüente. Já que vivemos em sociedade é natural que sejamos refreados pelo contexto em que nos encontramos imersos. A crítica serve a esse propósito, a autocrítica da mesma forma obedece à disciplina comportamental e nos conduz a boa convivência.

Aqueles que vêm na crítica alguma má intenção e não têm interesse em ouvir o externo que os rodeia, bloqueiam seu crescimento e impedem que seus atos sejam descritos como éticos ou não. Por mais que haja alguma deliberação não construtiva de alguém, no mínimo vão ficar sabendo que suas ações estarão gerando interesses conflitantes. Isso extrai o caráter negativo do ato critico, afinal é positivo sabermos avaliar a repercussão de nossas ações.

Aqueles que não têm interesse numa avaliação para saber qual é a reação do meio às suas ações ou os efeitos produzidos por elas e se colocam na defensiva frente à crítica, estão justificando a existência da mesma como uma forma de imposição de seu semelhante de se fazer ouvir como ente social, correm o risco de perder grande oportunidade de refazer posicionamentos e reavaliar seus atos e traçar outros rumos.

Aceitar uma crítica não é um ato de submissão, mas antes de tudo de inteligência e discernimento, desenvolvemos e aprimoramos a capacidade de absorver e compreender o todo. Será que estamos “emburrecidos” quando não conseguimos assimilar uma crítica?

Algumas pessoas consideram o ser humano simplesmente como um ser imperfeito dotado de qualidades e defeitos, mas esquecem de atribuir-lhe a obrigação de serem responsáveis. Dizer que somos perfeitamente imperfeitos faz sentido, mas esquecer que somos os responsáveis pela sociedade que criamos, pelos filhos que educamos, pelos nossos atos desde o lar até o social é criar um fardo pesadíssimo para o deus de cada um de nós.

Já que somos filhos de um deus, seja qual for essa crença, esse é nosso pai e quer que seus filhos cresçam, como crescer é aprender e dar um salto qualificado num processo evolutivo, não creio que este deus não queira que sejamos responsáveis por nossas ações, ainda que ele nos ajude na difícil tarefa de viver. O fato é que não deveríamos atribuir a deus ou seja lá quem for, a culpa por nossos atos, é como negar nosso poder de ação.

Mesmo sem muita consciência de mundo, somos os donos de nossa singular expressão de ser e é passível que entendamos também a coexistência de outros seres nas mesmas condições que nós, somos diferentes e a noção de crítica como fator positivo nos encaixa como seres sociais complementares, nos obriga a enxergar as necessidades dos outros e vice-versa. Nem sempre interessa a fonte da crítica, importa é que estejamos abertos a aprender com ela, somos nós os únicos beneficiados, mesmo que a crítica seja mal intencionada.

O diálogo, as opiniões, as trocas, as críticas são fontes extremamente úteis de construção pessoal e social. Não podemos dizer que somente pessoas com cultura, com graduação, ricas e de “boa educação” são as inspirações dessa edificação dialética do ser social, a capacidade de aprender não está ligada ao conhecimento escolar, ao meio universitário, à riqueza, está sim na maturidade de certos seres humanos na sabedoria da convivência, na disciplina dos valores do ser-em-essência, no desenvolvimento e na disposição de querer viver bem ao contrário de buscar um isolamento impossível de se manter uma vida inteira.

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